Continua após publicidade

Torto Arado na 20ª SP-Arte: Aline Bispo conta inspirações por trás da capa

Multiartista visual Aline Bispo conta os caminhos que levaram a ilustração do best-seller “Torto Arado” até a SP-Arte deste ano

Por Maria Fernanda Barros
Atualizado em 11 abr 2024, 11h53 - Publicado em 11 abr 2024, 11h00

Situada no stand da Galeria Luis Maluf, a obra Torto Arado, 2024″ marcou presença na 20ª edição da SP-Arte com um propósito ainda maior do que expor a capa do sucesso literário de Itamar Vieira Júnior. A decisão de apresentar na feira a ilustração do livro “Torto Arado” (2019) é, na verdade, proveniente do desejo de consagrar elementos culturais e afetivos da pesquisa artística da autora da arte, Aline Bispo

Curiosamente, a ilustração não foi inicialmente pensada para compor o livro que passou a nomeá-la, relata Aline. Antes mesmo da artista entrar em contato com um exemplar de “Torto Arado”, ela já trabalhava na arte que se tornaria a famosa capa do best-seller de Itamar. O desenho foi concretizado em 2019, com base na fotografia do italiano Giovanni Marrozzini, realizada em uma região de lavoura no Camarões.

Os bastidores da capa de “Torto Arado”, exposta na SP-Arte 2024
Retrato feito por Giovanni Marrozzini em 2010 inspirou a capa de “Torto Arado”. (Giovanni Marrozzini/CASACOR)

No mesmo ano, Itamar trabalhava nos reparos finais de Torto Arado. Por coincidência, o escritor enviou essa exata fotografia de Marrozzini como referência para a produção da capa de sua obra. A designer responsável pelos projetos dos livros do autor estabeleceu a ponte com Aline, e assim as obras de cada um se encontraram. “Foi um encontro que não estava no nosso previsto, e, coincidentemente, se fala muito sobre elementos que estão na capa que estão dentro do livro”, conta a ilustradora. 

Os bastidores da capa de “Torto Arado”, exposta na SP-Arte 2024
(Literartecia/CASACOR)

5 anos após sua confecção, Torto Arado foi parar na SP-Arte

Aline já havia participado da SP-Arte na 18ª edição, quando apresentou obras na temática Mancha e Gesto, também pela Galeria Luis Maluf. No entanto, foi só neste ano de 2024 que ela escolheu expor “Torto Arado”, uma de suas mais famosas ilustrações. 

Continua após a publicidade

Essa decisão é fruto de momentos da artista em conexão com a sua ancestralidade. Em 2022, Aline foi visitar sua família paterna na Bahia, que vive na região da Chapada Diamantina – mais um ponto em comum entre a vida da desenhista e a história do livro, que se passa também nessa mesma localização. 

Mas, dessa vez, não foi tão por acaso: o contato com a obra de Itamar foi um fator que incentivou a ilustradora a buscar se conectar mais profundamente com sua cultura ancestral. No ano seguinte, ela continuou realizando viagens no estado, o que resultou na pesquisa artística das obras expostas na SP-Arte. Além de “Torto Arado”, Aline também trouxe para a feira “A Linha dá o Ponto, A Linha dá o Caminho”. 

Os bastidores da capa de “Torto Arado”, exposta na SP-Arte 2024
Aline Bispo ao lado das obras que levou para a SP-Arte 2024: “Torto Arado” e “A Linha dá o Ponto, A Linha dá o Caminho” (Divulgação/CASACOR)

“Esse resgate afetivo e cultural, visitando festas, passando por lugares, conhecendo pessoas, indo para os interiores, tudo isso me faz voltar e falar: eu preciso construir essa pintura, registrar isso de outra forma e trazer isso para a SP-Arte. É um outro exercício, outro registro”, conta Aline. 

Além disso, Aline revela que a escolha das obras também é um convite para uma exposição que será realizada em agosto de 2024 na Usina Luis Maluf. 

Lendo o livro pela capa

Continua após a publicidade

A capa de “Torto Arado” teve uma repercussão calorosa, a ponto de se converter até em tatuagem no corpo de fãs do livro, como conta Aline. O sucesso da parceria permitiu que ela continuasse presente em outras publicações de Itamar, “Doramar ou a Odisseia: Histórias” (2021) e “Salvar o Fogo” (2023).

Os bastidores da capa de “Torto Arado”, exposta na SP-Arte 2024
(Divulgação/CASACOR)

Essa sensação de identificação do público com a capa do livro foi algo pensado por Aline. A escolha da artista em não se aprofundar nos traços do rosto, mas ainda assim destacar a racialidade e trazer representações que demonstrassem a força das personagens, foi uma maneira de evocar esse sentimento: “Eu gosto de pensar nessa identificação, não trago uma característica física no rosto, mas quero permitir que as pessoas a vejam e possam se identificar, ou que as pessoas possam criar também”, diz. 

Ressaltando cores quentes e vibrantes, a desenhista deixou uma marca registrada nas capas que ilustrou. Ela explica que utilizou os tons de modo a retomar elementos do livro: “As cores vão trazendo a intenção dessas obras, do que eu quero ressaltar em um livro. Por exemplo, o ‘Salvar o Fogo’ tem essa intenção de ser uma coisa muito quente, por isso o laranja”. Assim, ela prova que, nem sempre a escolha de um livro não deve ser feita pela capa. 

 

Publicidade